Iniciativa alerta pais quanto aos riscos e efeitos da internet
Plano é prevenir crianças e adolescentes e contribuir com seu desenvolvimento
Curitiba, PR… [ASN] Os resultados de uma pesquisa envolvendo 451 alunos do Colégio Adventista Boqueirão, na capital paranaense, mostraram um cenário preocupante para os professores em relação à internet e aos perigos aos quais crianças e adolescentes estão expostos. Dos entrevistados, 90% acessam a web diariamente e dividem suas atividades entre redes sociais e jogos online. No entanto, apenas 30% dos pais sabem o que exatamente seus filhos fazem no mundo virtual.
“Vínhamos notando que os alunos estavam muito dependentes de celulares, de internet. Nós percebemos que as crianças chegavam muito desejosas das aulas de informática, não pela parte didática, mas pela técnica. Eles queriam jogar”, constata a assistente de Tecnologia Educacional da instituição, Adriana Svidnicki, que realizou a pesquisa.
A partir de sua observação, ela aplicou um questionário de 19 perguntas em alunos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Um dos dados apontou que 202 deles já receberam, pela web ou celular, fotos de colegas ou amigos sem roupa ou exibindo partes íntimas do corpo. Para 352 deles, porém, o principal risco que correm por estar conectados é o de receber vírus e spams. Ter dados ou a identidade roubada vem em segundo lugar, seguido por entrar em contato com conteúdos agressivos, criminosos ou pornográficos.
Diante do quadro, Adriana contatou a organização não governamental (ONG) Safernet Brasil, entidade que combate a pornografia infantil na internet e luta contra os crimes e violações dos Direitos Humanos na rede mundial de computadores. Assim, surgiu a parceria para o projeto que visa o desenvolvimento de ações de prevenção de crimes cibernéticos nesta região do Estado.
Desenvolvimento comprometido
O primeiro passo foi tornar a pesquisa pública aos próprios pais e mostrar a necessidade de que eles acompanhem, monitorem e conheçam as atividades desenvolvidas pelos filhos no ambiente online. Em um evento realizado no dia 6 de junho, mais de 100 pais participaram de um encontro que contou com orientações de dois especialistas no assunto.
O objetivo foi alertá-los a respeito do outro lado da web. Na primeira reunião, no entanto, o assunto esteve focado nas mudanças que ela tem causado à mente e como tem alterado práticas educacionais. “A maioria das pessoas acha que a internet não tem impacto na vida de uma pessoa ou que é extremamente positiva”, argumenta o professor Leandro Cruz, que leciona a disciplina de Metodologias Ágeis de Desenvolvimento de Software na Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Segundo ele, à medida que as crianças usam, de maneira excessiva, qualquer tipo de equipamento eletrônico, seja tablet, celular e computador, isso, na verdade, prejudica o processo de aprendizagem educacional. Ele cita, por exemplo, a queda nas médias de crianças em disciplinas de português e matemática. “Hoje, há muitas delas na escola com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Isso está relacionado ao uso excessivo de computador e de jogos de computador ou vídeo game”, diagnostica.
Pais em alerta
Para a educadora Cineiva Tono, doutoranda em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a web tem seus pontos positivos, mas também exerce uma influência negativa em relação a fenômenos como o vício e o crime virtual, que são pouco divulgados em termos de prevenção. “Já vemos psiquiatras, psicólogos, delegados, promotores de justiça falando sobre esses dois assuntos. E poucos ou quase nenhum professor, pedagogo, falando sobre a prevenção a esses malefícios”, pontua.
Ela destaca que o uso inadequado e irrefletido da internet por parte da criança e do adolescente afetam tanto o desenvolvimento físico quanto o cognitivo, psicológico, relacional, a aprendizagem, atenção e a concentração. De igual modo, a segurança também é afetada, já que ela está sujeita a entrar em contato com pessoas mal intencionadas.
O conselho de Cineiva é que os pais, em parceria com a escola, busquem informações e estejam atentos ao que acontece no mundo em termos de fenômenos visando prevenir precocemente que os filhos corram riscos ou vício da dependência virtual.
A professora Júnia da Silva, mãe de duas alunas que frequentam a instituição, explica que da mesma forma como ela e o esposo selecionam o que as filhas assistem na televisão, fazem o mesmo com o conteúdo visto na web. O descuido, segundo ela, é um risco para o desenvolvimento das meninas, que ainda não atingiram os 10 anos.
Durante o encontro, foi proposta a criação de um comitê que se reunirá mensalmente para debater temas relacionados ao assunto em busca de soluções. O mesmo será composto por pais, professores, profissionais e membros da comunidade local. “A ideia é de que essa campanha, que está inserida dentro do projeto Educação + Saúde, se multiplique para outros locais a partir da experiência dos pais, inclusive dentro da Rede Educacional Adventista”, sonha Adriana. [Equipe ASN, Jefferson Paradello]